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Ajudar a eliminar a hepatite C entre os muros da prisão

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Ajudar a eliminar a hepatite C entre os muros da prisão

Um ex-recluso volta às prisões para ajudar aqueles que estão a cumprir pena a se concentrarem nos cuidados com a hepatite C.


Memórias difíceis que motivam uma nova missão

Sempre que Johnson Semedo volta à prisão onde passou 10 anos da sua vida, é uma espécie de déjà vu. Revive dolorosamente o seu passado - as memórias difíceis de uma vida atrás das grades e os erros cometidos lá fora.

Mas volta voluntariamente para dentro da prisão, uma e outra vez, com um propósito maior. Johnson Semedo é o fundador da Academia do Johnson, uma organização não governamental, localizada no Bairro do Zambujal, que tem como objetivo a promoção do desenvolvimento humano. Além de acompanhar crianças e jovens adolescentes do bairro, Johnson, como é conhecido por todos, ajuda também reclusos a aprenderem a reintegrarem-se na sociedade quando estão ainda a cumprir pena. Hoje, a Academia do Johnson tem uma nova missão. Estabeleceu uma parceria com outras organizações, incluindo a AbbVie, para lançar um programa chamado “1 Passo +“, que pretende ajudar a resolver um problema que afeta as pessoas encarceradas em todo o mundo – a infeção pelo vírus da hepatite C.

Através do aconselhamento entre pares, o “1 Passo +” está a sensibilizar as pessoas na prisão para o problema da hepatite C e a conectá-las aos cuidados médicos disponíveis. O programa ajuda os reclusos a priorizar os seus cuidados com a hepatite C e a permanecer em tratamento depois de saírem da prisão.

“Fiquei dez anos preso e hoje trago às prisões algo que não tive”, explica Johnson Semedo. “É isso que me motiva dia após dia. A nossa presença é muito importante para as pessoas dentro das prisões e fazemos realmente a diferença na vida delas”.


“1 Passo +”

A hepatite C é um desafio de saúde pública nas prisões portuguesas, assim como no resto do mundo, por várias razões complexas. A prática de comportamentos de risco no interior das prisões, como a partilha de seringas e as relações sexuais traumáticas desprotegidas, é uma das razões pelas quais as taxas de infeção e reinfeção são elevadas.1,2 Estima-se que, quando o projeto arrancou, a população prisional em Portugal contava com cerca de 2.000 pessoas infetadas pela hepatite C, uma taxa de infeção que é quase 20 vezes a da população geral.3

“É um pequeno grupo, mas muito importante numa perspetiva de eliminação da hepatite C”, afirma André Bengala, Business Unit Manager na AbbVie, que é parceira no “1 Passo +”. “As pessoas na prisão são privadas da sua liberdade, mas não devem ser privadas da sua saúde”.

Para ajudar a resolver este problema, todos os novos reclusos fazem rastreio à hepatite C quando entram na cadeia e o governo fornece financiamento a equipas de profissionais de saúde para se deslocarem até aos hospitais e aí diagnosticar e tratar os reclusos.

“Na cabeça de muitos reclusos, a hepatite C não é um problema real”, explica Johnson Semedo.

Joana Dias, Senior Patient Relations & Strategic Health Initiatives Manager na AbbVie, trabalha com o projeto “1 Passo +” para desenvolver palestras educativas que ajudam a motivar as pessoas encarceradas a reduzir comportamentos de risco para que, depois de terem cumprido a sua pena, estejam mais bem preparadas para prosperar na vida além dos muros da prisão e para travar a propagação da hepatite C.

Os maiores desafios em cuidar de pessoas com hepatite C na prisão estão geralmente relacionados com a empatia”, explica Guilherme Macedo, médico que trabalha há décadas para tratar a hepatite C nas prisões em Portugal. “Projetos de micro-eliminação como o “1 Passo +” são uma forma efetiva de superar esse desafio, para que possamos realmente alcançar a eliminação”.


Ajudar os outros a ajudarem-se

A inspiração para o projeto “1 Passo +” atingiu Johnson Semedo no momento em que saiu da prisão.

Estava motivado em mudar a minha vida, mas sempre que tentei abrir uma porta, as coisas não correram bem”, refere Johnson.

Johnson Semedo, fundador da Academia Johnson, durante uma sessão no âmbito do Escolhe Viver, um outro projeto de sensibilização 

Por isso procurou algo que não tinha até então – ajuda. Juntou-se a um grupo que o guiou sobre como refletir sobre o seu passado, perceber quem é hoje e como ajudar os outros a evitarem os erros que cometeu no seu caminho. Através deste processo de auto-reflexão, Johnson percebeu que a sua experiência poderia ser usada para ajudar os outros. Depois de fundar a Academia do Johnson, uniu-se à AbbVie para ampliar o âmbito do programa e incluir o problema da hepatite C.

No cerne do “1 Passo +” está a ideia de que as pessoas nas prisões estão mais dispostas a ouvir os seus pares quando se tratam de discussões sobre assuntos tão pessoais como a saúde. A base para essas discussões educacionais começa com o desenvolvimento de uma rede de aconselhamento de pares formada por líderes em programas prisionais, como por exemplo líderes das várias equipas desportivas que existem nas prisões.

É isto que torna este projeto único. A consciencialização e a motivação para procurar tratamento é feita por pares e não por pessoas de fora”, afirma Joana Dias.

Os médicos e as enfermeiras que vão às prisões para prestar cuidados não podem ajudar os doentes se os doentes não estiverem prontos para se ajudarem a si mesmos”, explica Johnson Semedo“. É por isso que a educação entre pares é tão importante para combater a apatia ou a desconfiança em relação aos cuidados com a hepatite C”. Sem essa sensibilização, Johnson acredita que a motivação dos reclusos para priorizarem a sua saúde seria muito pouca.


Atravessando a linha vermelha

Depois das pessoas serem libertadas, o “1 Passo +” mantém contacto para ajudá-las a enfrentar o obstáculo da reintegração na sociedade. É nesse momento crítico, conhecido como "período da linha vermelha", que o “1 Passo +” continua a trabalhar com os ex-reclusos para que permaneçam o tratamento, continuem com os cuidados médicos e evitem os perigos que existem “no mundo real” depois de saírem da prisão.

Hoje, Johnson acompanha um jovem que tem hepatite C e que está precisamente no período da linha vermelha. Este jovem recluso estava relutante em tratar a sua hepatite C. Através do projeto “1 Passo +”, este jovem conseguiu uma consulta e Johnson Semedo está a acompanhá-lo no processo de tratamento.

"Essas pessoas precisam de mim", afirma Johnson. "Então, para mim, este projeto é um sonho tornado realidade."

Referências

1 https://www.cdc.gov/hepatitis/hcv/pdfs/hepcincarcerationfactsheet.pdf

2 https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/hepatitis-c

3 Palladino et al., “Epidemic history of hepatitis C virus genotypes and subtypes in Portugal.” Scientific Reports, August 16, 2018. https://www.nature.com/articles/s41598-018-30528-0

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